Um novo estudo da Serasa Experian acende um sinal de alerta para a economia brasileira: milhões de micro e pequenas empresas (MPEs) estão afundadas em dívidas.
De antemão, podemos dizer que milhões de empresas brasileiras se encontram em inadimplência, o que representa um desafio significativo para o desenvolvimento e a saúde financeira do país.
Vale lembrar que o alto nível de endividamento dos empresários nacionais impacta não só os empreendedores, mas também a geração de empregos e a economia como um todo.
- Mas afinal, o que tem levado tantas MPEs a essa situação? E como evitar que esse problema se agrave ainda mais?
Neste artigo, vamos mostrar os dados da Serasa para entender a dimensão do problema do endividamento entre as MPEs, explorando as principais causas que levam a esse cenário, desde a gestão financeira inadequada até os desafios impostos pelo cenário econômico.
Além disso, vamos apresentar dicas e estratégias práticas para que empreendedores possam evitar as armadilhas do endividamento e construir um negócio financeiramente sustentável.
Continue lendo e descubra como proteger a sua empresa e contribuir para um ambiente econômico mais próspero!
Como são caracterizadas as micro e pequenas empresas?
No Brasil, a definição de micro e pequenas empresas (MPEs) é estabelecida pela Lei Complementar nº 123/2006, também conhecida como Lei Geral da Micro e Pequena Empresa.
Essa lei utiliza o faturamento anual como principal critério para classificar as empresas e garantir que elas possam se beneficiar de regimes tributários simplificados e linhas de crédito com condições especiais.
- Microempresa (ME): Uma empresa é considerada microempresa quando sua receita bruta anual é igual ou inferior a R$ 360 mil.
- Pequena Empresa (EPP): Já a pequena empresa se caracteriza por ter uma receita bruta anual superior a R$ 360 mil e igual ou inferior a R$ 4,8 milhões.
A divisão por faixas de faturamento é estratégica para que o governo possa desenvolver políticas públicas e programas de apoio que atendam às necessidades específicas de cada tipo de MPE.
Além disso, a classificação como ME ou EPP impacta diretamente nos impostos que a empresa precisa pagar, já que elas podem optar por regimes tributários simplificados, como o Simples Nacional.
Esse regime permite que o pagamento de diversos impostos seja unificado em uma única guia, facilitando a gestão financeira e reduzindo a burocracia.
Vale destacar que a categorização como ME ou EPP não leva em conta apenas o faturamento. Outros aspectos, como o número de empregados e o ramo de atividade da empresa, também podem ser considerados para a concessão de benefícios específicos.
Além dos critérios já mencionados, a Lei Geral também define as empresas de pequeno porte (EPP) como aquelas que possuem receita bruta anual superior a R$ 4,8 milhões e igual ou inferior a R$ 360 milhões.
Essa categoria, embora não se enquadre na definição de micro e pequena empresa utilizada neste estudo da Serasa, também desfruta de benefícios específicos e representa uma parcela importante do tecido empresarial brasileiro.
Quantas micro e pequenas empresas estão inadimplentes?
Prepare-se para um dado alarmante: de acordo com o Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian, o número de empresas brasileiras negativadas atingiu um patamar preocupante em 2024.
O estudo revela que 6,5 milhões de empresas estão com dívidas em atraso, o que representa um novo recorde na série histórica do índice, iniciada em 2016.
Para se ter uma ideia da dimensão do problema, o valor total dessas dívidas chega a impressionantes R$ 112,9 bilhões.
Esse cenário demonstra um agravamento da situação em relação ao ano anterior, quando 6 milhões de empresas estavam inadimplentes.
O aumento no número de empresas negativadas acende um sinal de alerta para a economia brasileira, já que as micro e pequenas empresas desempenham um papel fundamental na geração de empregos e no desenvolvimento do país.
O estudo da Serasa também revela que, em média, cada empresa inadimplente possui sete dívidas vencidas por CNPJ. Os números demonstram a complexidade do problema e a necessidade de medidas para auxiliar as empresas a renegociarem suas dívidas e recuperarem sua saúde financeira.
Outro dado relevante do estudo é a distribuição do endividamento por setor. O setor de serviços lidera o ranking, com 53,8% do total das empresas negativadas, seguido pelo comércio (37,3%) e pela indústria (7,7%).
Os setores primário (0,8%) e outros (0,4%), que inclui o setor financeiro e o terceiro setor, completam a lista.
A pesquisa revelou também que a categoria “Outros – Empresas Financeiras e de Terceiro Setor” tem destaque no número de dívidas contraídas, bem como os setores de bancos, cartões de crédito, empréstimos e serviços financeiros.
Os resultados reforçam a necessidade de uma análise mais aprofundada sobre os desafios enfrentados pelas micro e pequenas empresas no Brasil, bem como a busca por soluções que promovam um ambiente mais favorável ao empreendedorismo e ao desenvolvimento econômico sustentável.
Quais estados têm mais empresas endividadas?
O estudo da Serasa Experian não só revela o número total de micro e pequenas empresas inadimplentes no Brasil, como também apresenta a situação em cada estado.
Com esses dados, podemos entender melhor como o endividamento se distribui pelo país e quais regiões precisam de mais atenção e suporte para a recuperação econômica das MPMEs.
Veja a lista completa com a quantidade de MPMEs inadimplentes em cada estado brasileiro em 2024:
- São Paulo: 2.057.462
- Minas Gerais: 574.870
- Rio de Janeiro: 563.835
- Paraná: 407.507
- Rio Grande do Sul: 349.706
- Bahia: 298.616
- Santa Catarina: 279.867
- Goiás: 215.341
- Pernambuco: 190.143
- Ceará: 150.403
- Pará: 143.380
- Mato Grosso: 133.914
- Distrito Federal: 121.557
- Espírito Santo: 115.680
- Maranhão: 110.920
- Alagoas: 81.440
- Mato Grosso do Sul: 78.543
- Amazonas: 70.393
- Rio Grande do Norte: 68.013
- Paraíba: 62.320
- Rondônia: 50.898
- Sergipe: 43.378
- Piauí: 41.592
- Tocantins: 39.467
- Amapá: 14.697
- Acre: 13.955
- Roraima: 9.133
Observando os dados, vemos que São Paulo está no topo do ranking com um grande número de MPMEs inadimplentes, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro.
A concentração de empresas endividadas nos estados mais populosos e com maior atividade econômica do país precisa de atenção, pois pode ter um impacto considerável na geração de empregos e na recuperação da economia.
A partir da análise dos dados, podemos pensar em alguns fatores que podem estar relacionados ao endividamento das MPMEs em cada região.
Por exemplo, a grande quantidade de empresas em São Paulo pode aumentar a concorrência e tornar mais difícil a sobrevivência dos pequenos negócios.
Já em Minas Gerais, a forte presença de setores como a mineração, que passam por variações no mercado internacional, pode influenciar as finanças das MPMEs.
Inadimplência de empresas vs. consumidores
A inadimplência entre as micro e pequenas empresas não ocorre de forma isolada. Na verdade, ela está diretamente relacionada à inadimplência dos consumidores, como observa Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian.
Segundo ele, o crescimento no número de pessoas físicas com dívidas em atraso tem um impacto direto na capacidade das empresas de cumprir suas obrigações financeiras.
Essa relação fica clara quando analisamos os dados da Serasa sobre a inadimplência dos consumidores. Somente em fevereiro de 2024, 433 mil pessoas entraram para a lista de negativados, resultando em um total de 70,5 milhões de inadimplentes.
Com menos recursos disponíveis, os consumidores diminuem seus gastos, o que afeta diretamente o faturamento das empresas, principalmente as micro e pequenas, que dependem do consumo interno.
O cartão de crédito se mantém como o principal problema no endividamento dos brasileiros, representando 31,6% das dívidas. Logo depois, vêm as contas básicas (21,7%) e o varejo (11,2%).
Em comparação com fevereiro de 2022, as dívidas com bancos e cartões subiram 3%, enquanto os débitos relacionados a gastos básicos e varejo caíram 1,5% e 1,3%, respectivamente.
Rabi destaca a inflação e os juros altos como os principais motivos para esse cenário, além das despesas comuns no início do ano, como IPVA, IPTU e reajuste de mensalidades escolares.
O contexto econômico adverso gera um ciclo vicioso: a inflação e os juros altos diminuem o poder de compra dos consumidores, que, por sua vez, compram menos, afetando o faturamento das empresas e aumentando a inadimplência.
Considerando essa relação entre a inadimplência de empresas e consumidores, vemos a necessidade de medidas que ajudem a melhorar as finanças de ambos os grupos.
Políticas públicas para controlar a inflação, incentivos ao consumo consciente e programas de renegociação de dívidas são algumas ações que podem contribuir para mudar essa situação.
Quais são os principais motivos de dívidas das empresas
As micro e pequenas empresas, mesmo sendo importantes para a economia, podem enfrentar dificuldades que levam ao endividamento.
Entender as causas desse problema ajuda os empreendedores a tomar medidas para proteger as finanças de seus negócios.
Diversos fatores contribuem para o acúmulo de dívidas, desde questões internas de gestão até fatores externos.
Veja alguns dos motivos que levam as empresas a se endividarem:
- Falta de planejamento financeiro: Sem um planejamento detalhado, que considere receitas, despesas, fluxo de caixa e metas, as empresas podem tomar decisões erradas e comprometer suas finanças.
- Gestão de estoque ineficiente: Estoques desorganizados, com excesso ou falta de produtos, geram custos que podem afetar o capital de giro da empresa.
- Dificuldades na gestão de crédito: Conceder crédito sem analisar os clientes e sem ter regras claras de cobrança pode gerar perdas financeiras.
- Investimentos mal planejados: Investir sem avaliar os riscos e o retorno pode ser prejudicial para a empresa.
- Custos operacionais elevados: Aluguel, energia e telefone caros impactam o lucro do negócio e podem gerar dívidas.
- Falta de controle sobre as despesas: Não acompanhar as despesas, como materiais de escritório e manutenções, pode resultar em gastos excessivos.
- Baixa lucratividade: Se a empresa não gera lucro suficiente para cobrir suas despesas e investimentos, o endividamento se torna um problema.
- Problemas com sócios: Desentendimentos, falta de diálogo e decisões individuais podem prejudicar a gestão da empresa e suas finanças.
- Crises econômicas: Crises, inflação e instabilidade econômica afetam as vendas e podem prejudicar as empresas.
- Mudanças no mercado: Não se adaptar a novas tecnologias e mudanças no mercado pode fazer a empresa perder vendas.
- Concorrência acirrada: Em mercados competitivos, as empresas precisam se esforçar para atrair clientes, o que pode gerar custos e afetar o lucro.
- Desastres naturais e imprevistos: Eventos inesperados podem atrapalhar as atividades da empresa e causar grandes prejuízos.
- Falta de capital de giro: Sem dinheiro suficiente para cobrir as despesas do dia a dia, a empresa pode precisar de empréstimos, aumentando suas dívidas.
- Dependência de poucos clientes: Depender de poucos clientes coloca a empresa em risco se um deles parar de comprar ou atrasar pagamentos.
Cada empresa tem suas características e dificuldades. Conhecer as causas de endividamento ajuda os empreendedores a se prevenir e proteger seu negócio.
Dicas para evitar dívidas na sua empresa
Manter uma empresa livre de dívidas é um desafio constante, mas com planejamento, organização e disciplina financeira é possível alcançar esse objetivo e garantir a sustentabilidade do negócio.
Para te ajudar nessa missão, separamos algumas dicas práticas e eficazes que podem fazer a diferença na saúde financeira da sua empresa:
Planejamento Financeiro:
- Elabore um plano de negócios detalhado: Defina seus objetivos, estratégias, público-alvo, projeções de custos e receitas. Um plano bem estruturado serve como guia para as suas decisões e ajuda a prever cenários futuros.
- Controle o fluxo de caixa: Monitore de perto as entradas e saídas de dinheiro da sua empresa. Utilize ferramentas de gestão financeira, planilhas ou softwares, para registrar todas as transações e ter uma visão clara da sua situação financeira.
- Faça previsões realistas: Ao projetar suas receitas, seja conservador e leve em consideração possíveis imprevistos e variações no mercado. Evite otimismo excessivo que pode levar a frustrações e dificuldades financeiras.
- Separe as contas da empresa das contas pessoais: Misturar as finanças da empresa com as suas finanças pessoais é um erro comum que pode levar à confusão e ao descontrole. Mantenha contas bancárias separadas e utilize cartões de crédito específicos para a empresa.
Gestão Eficiente:
- Negocie com fornecedores: Busque sempre as melhores condições de pagamento e prazos com seus fornecedores.
- Otimize seus custos: Avalie seus custos fixos e variáveis e busque alternativas para reduzir gastos. Negocie contratos, busque fornecedores mais competitivos e avalie a possibilidade de reduzir o consumo de energia e outros recursos.
- Gerencie o estoque com atenção: Evite o excesso de estoque, que gera custos de armazenamento e aumenta o risco de perdas com produtos obsoletos ou vencidos. Utilize métodos de controle de estoque para garantir que você tenha os produtos certos na quantidade certa.
- Invista em tecnologia: Softwares de gestão empresarial podem auxiliar na organização financeira, no controle de estoque, na gestão de clientes e em diversas outras áreas do negócio. Automatizar processos e ter acesso a informações precisas facilita a tomada de decisões.
- Capacite sua equipe: Invista em treinamentos para seus colaboradores, especialmente nas áreas de vendas, atendimento ao cliente e finanças. Uma equipe capacitada contribui para a eficiência do negócio e para a satisfação dos clientes.
Outras dicas importantes:
- Mantenha uma reserva de emergência: Tenha sempre uma reserva financeira para cobrir imprevistos e períodos de baixa nas vendas. Essa reserva te dará segurança para enfrentar momentos de dificuldade sem comprometer a saúde financeira da empresa.
- Busque conhecimento sobre gestão financeira: Invista em cursos, workshops e leituras sobre gestão financeira para aprimorar seus conhecimentos e tomar decisões mais estratégicas.
- Fique atento às mudanças no mercado: Acompanhe as tendências, as novas tecnologias e as necessidades dos seus clientes. Adapte seu negócio às demandas do mercado para manter a competitividade.
- Consulte especialistas: Se precisar de ajuda com questões financeiras, contábeis ou jurídicas, não hesite em buscar a orientação de profissionais especializados.
Lembre-se: a prevenção é sempre o melhor caminho para evitar o endividamento e garantir a saúde financeira da sua empresa.
FAQ
O que são Micro e Pequenas Empresas (MPEs)?
No Brasil, as MPEs são definidas pela Lei Complementar nº 123/2006 (Lei Geral da Micro e Pequena Empresa), com base no faturamento anual: Microempresa (ME) tem receita bruta anual igual ou inferior a R$ 360 mil e Pequena Empresa (EPP) tem receita bruta anual superior a R$ 360 mil e igual ou inferior a R$ 4,8 milhões.
Quantas micro e pequenas empresas estão inadimplentes no Brasil?
De acordo com a Serasa Experian, em 2024, 6,5 milhões de MPEs estão inadimplentes no Brasil, com uma dívida total de R$ 112,9 bilhões.
Quais estados brasileiros possuem o maior número de MPEs inadimplentes?
São Paulo lidera o ranking com mais de 2 milhões de MPEs inadimplentes, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Como a inadimplência dos consumidores impacta as MPEs?
O aumento da inadimplência dos consumidores diminui seu poder de compra, resultando em menor faturamento para as empresas, especialmente as MPEs que dependem do consumo interno, contribuindo para o aumento do endividamento empresarial.
Quais são as principais causas do endividamento das MPEs?
Diversos fatores contribuem para o endividamento das MPEs, incluindo falta de planejamento financeiro, gestão ineficiente de estoque e crédito, investimentos mal planejados, custos operacionais elevados, crises econômicas, concorrência acirrada e falta de capital de giro.
O que as MPEs podem fazer para evitar o endividamento?
Algumas dicas para evitar o endividamento incluem elaborar um plano de negócios detalhado, controlar o fluxo de caixa, negociar com fornecedores, otimizar custos, gerenciar o estoque com atenção, investir em tecnologia, capacitar a equipe e manter uma reserva de emergência.
Onde posso encontrar mais informações sobre o endividamento das MPEs?
A Serasa Experian é uma fonte confiável de informações e análises sobre o endividamento das empresas no Brasil. Consulte o site da Serasa para obter dados atualizados e aprofundados sobre o tema.
Qual a importância de entender o endividamento das MPEs?
Compreender o endividamento das MPEs é crucial para o desenvolvimento de políticas públicas e estratégias de apoio que promovam a saúde financeira dessas empresas, que são importantes geradoras de emprego e renda no país.