Redução da jornada de trabalho é discutida no Senado; saiba tudo

Redução da jornada de trabalho é alvo de vários Projetos de Lei no Senado! Entenda a discussão, benefícios, desafios e mais. Veja mais neste artigo!
Sumário
redução da jornada de trabalho

A busca por um equilíbrio entre vida profissional e pessoal tem dominado as conversas sobre o futuro do trabalho, impulsionando uma verdadeira reformulação dos modelos tradicionais.

Dentro do Senado Federal, essa mudança de paradigmas se reflete em uma série de projetos de lei que propõem a redução da jornada de trabalho para os brasileiros.

A temática, que ganhou força nos últimos anos, divide opiniões e levanta questionamentos importantes sobre a organização do trabalho no país, acendendo debates acalorados entre especialistas, parlamentares e a sociedade civil.

Longe de uma simples mudança numérica, a proposta de encurtar a jornada coloca em xeque a cultura de longas horas de trabalho, gerando um debate sobre produtividade, bemestar e direitos trabalhistas.

Afinal, seria possível manter – ou até mesmo impulsionar – a produção trabalhando menos? Quais os impactos de uma reforma como essa no cenário socioeconômico brasileiro? As incertezas pairam sobre o futuro do mercado de trabalho, os custos para as empresas e a própria capacidade do país de se adaptar a um novo ritmo.

Neste artigo, vamos mergulhar no centro dessa discussão dentro do Senado, apresentando os principais projetos de lei em tramitação, os argumentos de quem defende e de quem critica a redução da jornada e as possíveis consequências dessa mudança para o mercado de trabalho brasileiro.

Abordaremos os modelos adotados em outros países, os desafios e as oportunidades que se desenham, além de analisar o contexto brasileiro frente a essa tendência global. Fique de olho!

Quais são os limites atuais da jornada de trabalho?

Antes de explorarmos as propostas de redução da jornada de trabalho em debate no Senado, é crucial entendermos o cenário atual e os direitos já garantidos pela legislação trabalhista.

Afinal, em um país com histórico de longas jornadas e exploração trabalhista, a regulamentação da jornada não se limita a uma mera organização do tempo, mas se traduz em uma importante conquista social.

Nossa Constituição Federal, em seu artigo 7º, já garante aos trabalhadores o direito à jornada de, no máximo, 8 horas diárias e 44 horas semanais. Esse limite, conhecido como jornada normal, atua como um pilar fundamental na proteção do trabalhador contra o excesso de trabalho.

A partir desse limite constitucional, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seus artigos 57 a 75, entra em cena para regulamentar as nuances da jornada, definindo as regras para horas extras, intervalos, trabalho noturno, entre outros aspectos.

As horas extras, aquelas realizadas além da jornada normal, representam um ponto específico que merece atenção. A CLT determina que o trabalho extraordinário deve ser remunerado com um adicional de, no mínimo, 50% sobre o valor da hora normal, garantindo ao trabalhador uma compensação financeira pelo esforço adicional.

Vale ressaltar que a legislação não define um valor máximo para o adicional de hora extra, abrindo espaço para que acordos coletivos de trabalho negociem percentuais mais vantajosos para os trabalhadores.

A regra da jornada de 8 horas diárias e 44 horas semanais não é imutável e a própria legislação prevê exceções. Em algumas atividades, a jornada pode ser definida de forma diferenciada, considerando as especificidades do trabalho. Um exemplo são os trabalhos realizados em turnos ininterruptos de revezamento, comuns em setores como saúde, segurança e indústria.

Nesses casos, a jornada máxima permitida é de 6 horas diárias, visando preservar a saúde do trabalhador e garantir a continuidade do serviço.

Outra exceção se aplica aos contratos de trabalho em regime de tempo parcial, uma modalidade de trabalho que vem ganhando espaço no Brasil. Nesses contratos, a jornada de trabalho é previamente definida como sendo inferior à jornada convencional, não podendo ultrapassar 30 horas semanais, sem a possibilidade de prestação de horas extras.

A modalidade oferece maior flexibilidade aos trabalhadores que buscam conciliar o trabalho com outras atividades, como estudos ou cuidados com a família.

Mais um ponto crucial na legislação trabalhista se refere à limitação da jornada extraordinária. A CLT estabelece um limite de 2 horas extras diárias, exceto em casos excepcionais e mediante acordo coletivo de trabalho.

A limitação visa, sobretudo, proteger a saúde e a segurança do trabalhador, evitando jornadas excessivamente longas que podem levar à exaustão física e mental, aumentando o risco de acidentes de trabalho e o desenvolvimento de doenças ocupacionais.

Devemos frisar que o descumprimento das normas trabalhistas quanto à jornada de trabalho pode acarretar consequências graves para o empregador, incluindo autuações, multas e ações trabalhistas.

Por outro lado, é direito do trabalhador ter sua jornada de trabalho respeitada e reclamar seus direitos caso haja qualquer irregularidade.

Senado discute várias propostas de redução da jornada de trabalho

A busca por uma rotina mais equilibrada, que permita conciliar o trabalho com a vida pessoal, ecoa cada vez mais alto na sociedade brasileira. E essa vontade de “viver mais e trabalhar menos” ganhou um palco importante: o Senado Federal.

A possibilidade de reduzir a jornada de trabalho sem comprometer a remuneração dos trabalhadores tem sido tema de discussões acaloradas, e nesse cenário, pelos menos 3 projetos de lei visam transformar essa vontade em realidade.

A ideia não é nova e já vem sendo colocada em prática por algumas empresas pioneiras no Brasil, que testam os benefícios da jornada reduzida em seus modelos de negócio.

Os resultados dessas experiências-piloto têm alimentado o debate e chamado a atenção do legislativo para a necessidade de uma revisão mais profunda na lei em relação à jornada de trabalho, aberta à possibilidade de uma redução na quantidade de horas trabalhadas ou na adoção da semana de quatro dias, sem impactar o salário dos trabalhadores.

A crença de que trabalhar menos significa produzir menos vem sendo desafiada por dados e pesquisas. Um levantamento realizado pelo Instituto DataSenado, em parceria com o gabinete da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), revelou que a grande maioria dos trabalhadores brasileiros (78%) se sente confiante em manter a qualidade do seu trabalho mesmo com a redução da jornada.

Para eles, o tempo livre conquistado seria revertido em benefícios para a saúde, o bem-estar e a própria qualificação profissional, impactando positivamente sua produtividade e engajamento com o trabalho.

Abaixo, detalhamos melhor o resultado da pesquisa do DataSenado:

  • 85% dos brasileiros acreditam que teriam mais qualidade de vida com a redução da jornada de trabalho;
  • 78% dizem que conseguiriam manter a mesma qualidade de trabalho com a redução da jornada;
  • 68% defendem que fariam a mesma quantidade de trabalho com a redução;
  • 69% não acreditam que haveria sobrecarga de trabalho;
  • Se a jornada fosse reduzida, 40% dos trabalhadores dedicariam mais tempo à família;
  • 17% cuidariam melhor da saúde;
  • 16% fariam cursos de capacitação, qualificação e melhoramento profissional;
  • 11% buscariam alternativas de renda extra no tempo livre;
  • 8% praticariam mais atividades físicas;
  • 6% fariam mais atividades de lazer.

A pesquisa em questão, realizada entre os dias 27 de março e 3 de abril de 2024, contou com a participação de cerca de 4,3 mil trabalhadores espalhados por todas as regiões do Brasil, servindo como uma amostragem bastante completa dos anseios da classe.

Redução da jornada de trabalho: Histórico da reinvindicação

A proposta de reduzir a jornada de trabalho no Brasil não é uma novidade, mas sim uma luta que ecoa pelo Congresso há décadas. Se em 2023 o tema ganhou novo fôlego com o avanço do PL 1.105/2023 na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, sua história remonta à própria construção da Constituição Cidadã, em meados da década de 80.

Durante a Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), a definição da carga horária de trabalho foi um dos pontos mais delicados e intensamente debatidos pelos parlamentares. Figuras importantes da política brasileira, como o então deputado e hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado constituinte Paulo Paim, já levantavam a bandeira da redução da jornada.

Lula, com suas raízes fincadas no movimento sindical, defendia ferrenhamente a emenda que fixaria a jornada em 40 horas semanais.

Em um de seus discursos no Plenário, em agosto de 1988, às vésperas da votação da matéria, Lula foi enfático: a redução da jornada e a estabilidade no emprego representavam os pontos mais “atacados pelo poder econômico” durante a Constituinte.

Para ele, a jornada de 40 horas semanais não era apenas uma questão de direito trabalhista, mas uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida, ampliar o acesso ao lazer e, inclusive, gerar novos postos de trabalho.

Apesar da forte defesa de Lula e de outros parlamentares, a proposta das 40 horas não conseguiu a adesão da maioria, e a Constituição promulgada em 1988 consagrou a jornada de 44 horas semanais em seu artigo 7º, modelo que permanece em vigor até os dias de hoje.

No entanto, a própria Constituição, em seu texto, já abria a possibilidade de uma futura redução da jornada por meio de acordos ou convenções coletivas de trabalho.

A busca por uma jornada de trabalho mais curta não se limitou ao período da Constituinte. Em 1995, o então deputado Inácio Arruda apresentou a PEC 231/1995, propondo uma redução gradual da jornada de 44 para 40 horas semanais, com a contrapartida de um aumento no adicional das horas extras. A proposta, porém, acabou arquivada ao final da legislatura, sem ter sido votada.

Paralelamente às iniciativas no Legislativo, a luta pela redução da jornada de trabalho sempre encontrou ressonância nas reivindicações da classe trabalhadora e dos movimentos sindicais.

Rodrigo Rodrigues, presidente da Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal (CUT-DF), lembra que a defesa de uma jornada de 40 horas semanais é uma bandeira histórica dessas entidades.

“Nós entendemos que a vida não deve ser voltada apenas para o trabalho, mas que as pessoas têm direito a lazer e descanso também”, defende Rodrigues.

Para ele, a luta pelas oito horas máximas de trabalho por dia reflete uma visão mais ampla do tempo, abrangendo trabalho, lazer e descanso.

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Projeto de Lei 1.105/2023 quer reduzir a jornada de trabalho dos brasileiros

Enquanto o debate sobre a redução da jornada de trabalho acontece em todo o Brasil, no Senado Federal um projeto de lei em específico tem conquistado destaque e despertado a atenção de trabalhadores e empregadores: o PL 1.105/2023.

De autoria do senador Weverton (PDT-MA), a proposta propõe uma mudança significativa na CLT, abrindo caminho para a redução da jornada de trabalho dos brasileiros.

O texto do PL 1.105/2023 defende a inclusão, na legislação trabalhista, da possibilidade de empresas e trabalhadores negociarem a redução das horas trabalhadas diariamente ou semanalmente, seja por meio de acordos individuais ou convenções coletivas.

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O ponto crucial, que tem conquistado a adesão de diversos setores, é a garantia de que essa redução na jornada não implicará em qualquer tipo de redução salarial ou desconto na remuneração.

Para o autor do projeto, a grande conquista da proposta está na busca por um equilíbrio entre a produtividade e a saúde do trabalhador.

“O principal ganho é o aumento da produtividade, aliado a uma vida física e mentalmente mais saudável (…) Isso não é pouca coisa em um mundo com tanto adoecimento mental, em que vemos um aumento de casos de depressão, ansiedade e doenças físicas provocadas pelo estresse”, defende o senador, ressaltando a importância de se discutir a saúde mental no ambiente de trabalho.

O parlamentar faz questão de frisar que o projeto não imporá a redução da jornada de trabalho de forma abrupta ou generalizada. A ideia é abrir um canal de diálogo entre as partes, permitindo que cada empresa e seus trabalhadores encontrem o modelo que melhor se adapte à sua realidade, sem abrir mão da proteção legal.

“O projeto não obriga a redução, apenas a permite por meio de acordo, de modo que o mercado pode ir se ajustando às novas tendências. Ao mesmo tempo, o trabalhador fica protegido, porque não pode haver corte de salários”, explica o senador.

O PL 1.105/2023 já avançou significativamente no Senado, tendo sido aprovado de forma terminativa pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) em dezembro de 2023. Com isso, o texto já poderia seguir para a análise da Câmara dos Deputados.

No entanto, um requerimento apresentado pelo senador Laércio Oliveira (PP-SE) determinou que o projeto também fosse submetido à avaliação da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Para Laércio, a análise da CAE se faz necessária devido à relevância da matéria para o setor produtivo.

“A matéria precisa ser analisada na Comissão de Assuntos Econômicos, dada a importância do assunto para todo o setor produtivo gerador de empregos e desenvolvimento econômico”, justificou o senador.

A partir de agora, o PL 1.105/2023 segue sob a relatoria do senador Eduardo Gomes (PL-TO) na CAE, ainda sem data definida para votação. A expectativa é de que o texto continue a provocar debates e mobilizar diferentes setores da sociedade, enquanto aguarda um novo capítulo em sua trajetória no Legislativo.

Redução da jornada de trabalho pode criar mais empregos

A discussão sobre a redução da jornada de trabalho no Brasil extrapola a esfera dos direitos trabalhistas e ganha relevância no combate ao desemprego, um dos grandes desafios enfrentados pela economia brasileira.

Para os defensores da jornada mais curta, a medida pode ser um instrumento eficaz na geração de novos postos de trabalho, impactando positivamente os índices de desemprego no país.

O senador Paulo Paim (PT-RS), que atuou como relator do PL 1.105/2023 na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), é um entusiasta da proposta e vê na redução da jornada uma solução para oxigenar o mercado de trabalho.

“A proposta abre a possibilidade de gerar novos postos de trabalho e, consequentemente, reduzir as taxas de desemprego e proporcionar uma melhor distribuição de renda”, justifica Paim.

A preocupação do senador encontra respaldo nos números alarmantes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), divulgada pelo IBGE.

Segundo o levantamento, apenas no primeiro trimestre de 2024, o Brasil registrou 8,6 milhões de desempregados, um contingente que evidencia a necessidade de medidas efetivas para reverter esse quadro.

Um estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) corrobora a tese de que a redução da jornada de trabalho pode ser uma solução para impulsionar a criação de empregos.

De acordo com a pesquisa, a redução da jornada para 40 horas semanais, sem redução salarial, teria o potencial de gerar mais de 2,5 milhões de novas vagas no Brasil.

A lógica por trás dessa equação é simples: com uma jornada de trabalho mais curta, as empresas precisariam contratar mais trabalhadores para manter o ritmo de produção, abrindo espaço para aqueles que buscam uma oportunidade no mercado de trabalho.

Mas não é só isso! A redução da jornada pode também pode contribuir para a formalização de trabalhadores que se veem obrigados a aceitar longas jornadas em condições precárias, em busca de sobrevivência.

Quais são as vantagens e desvantagens da redução da jornada de trabalho?

A proposta de redução da jornada de trabalho, como qualquer tema complexo e multifacetado, carrega consigo um leque de possíveis vantagens e desvantagens, tanto para as empresas quanto para os trabalhadores.

Enquanto alguns enxergam na medida a solução para problemas históricos, como o desemprego e a exploração trabalhista, outros temem os impactos econômicos e a perda de competitividade.

Para uma análise completa e equilibrada da questão, é preciso colocar na balança os dois lados da moeda. Veja abaixo as principais vantagens e desvantagens da redução da jornada de trabalho, tanto para as empresas quanto para os colaboradores:

Vantagens para as empresas:

  • Aumento da produtividade: Trabalhadores mais descansados e motivados tendem a ser mais produtivos, compensando a redução na jornada com maior concentração e eficiência.
  • Redução de custos com horas extras e absenteísmo: Com uma jornada de trabalho mais justa e equilibrada, as empresas podem notar uma queda na necessidade de pagar horas extras e na taxa de faltas e atrasos.
  • Melhoria do clima organizacional: Uma jornada de trabalho reduzida pode contribuir para um ambiente de trabalho mais positivo, com impacto na motivação, na colaboração entre as equipes e na retenção de talentos.
  • Fortalecimento da imagem da empresa: Adotar uma postura inovadora e comprometida com o bem-estar dos funcionários pode fortalecer a reputação da empresa, atraindo profissionais qualificados e consolidando uma imagem positiva diante do mercado.

Desvantagens para as empresas:

  • Aumento dos custos com contratações: Dependendo do modelo de redução de jornada adotado, as empresas podem ter que ampliar o quadro de funcionários para manter o ritmo de produção, o que implica em maiores gastos com contratação, treinamento e encargos trabalhistas.
  • Dificuldade de adaptação em alguns setores: A implementação da jornada reduzida pode ser um desafio para setores com demandas específicas ou que exigem disponibilidade constante dos funcionários, como hospitais, indústrias com produção contínua e empresas com atendimento ao público em horário estendido.
  • Risco de perda de competitividade: Em um mercado globalizado e altamente competitivo, algumas empresas temem que a redução da jornada de trabalho, caso não seja acompanhada de ganhos significativos de produtividade, possa impactar negativamente sua competitividade e colocar em risco a sobrevivência do negócio.

Vantagens para os trabalhadores:

  • Melhora na qualidade de vida: Uma jornada de trabalho mais curta significa mais tempo livre para se dedicar à família, aos cuidados com a saúde, ao lazer, à educação e ao desenvolvimento pessoal.
  • Redução do estresse e de doenças relacionadas ao trabalho: Trabalhar menos horas por dia ou por semana pode contribuir para a redução do estresse, da ansiedade e de doenças ocupacionais relacionadas ao excesso de trabalho, como a Síndrome de Burnout.
  • Aumento da motivação e do engajamento: A sensação de valorização e a possibilidade de conciliar a vida profissional com a vida pessoal podem levar a um aumento na motivação e no engajamento dos trabalhadores, refletindo em melhores resultados para as empresas.

Desvantagens para os trabalhadores:

  • Risco de redução salarial em alguns casos: Embora a proposta em discussão no Senado garanta a manutenção do salário em caso de redução da jornada, a medida pode abrir brechas para que, na prática, algumas empresas pressionem por uma readequação salarial como condição para a implementação da jornada mais curta.
  • Dificuldade de adaptação à nova rotina: A mudança na jornada de trabalho exige uma reorganização da rotina e uma gestão de tempo eficiente por parte dos trabalhadores, o que pode ser um desafio para alguns, especialmente em um primeiro momento.

A discussão sobre a redução da jornada de trabalho no Brasil ainda está em curso e exige uma análise criteriosa de todos os seus aspectos.

É fundamental que o debate avance com a participação de todos os atores envolvidos – governo, empresas e trabalhadores – para que se encontre o modelo que melhor atenda aos interesses do país, impulsionando a economia, gerando empregos e, sobretudo, garantindo a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores.

O que as empresas ganham com a redução da jornada de trabalho?

Enquanto o bem-estar dos trabalhadores se consolida como um fator de extrema relevância para o sucesso de qualquer empresa, o Senado analisa propostas que vão além de simplesmente autorizar a redução da jornada de trabalho.

A ideia agora é incentivar ativamente a adoção dessa prática, reconhecendo e premiando as empresas que se comprometem com a construção de um ambiente de trabalho mais justo, equilibrado e produtivo.

Um exemplo dessa iniciativa é o Projeto de Resolução do Senado (PRS) 15/2024, de autoria da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS).

A proposta institui o “Diploma Empresa Ideal“, uma forma de reconhecimento público às empresas que se destacarem pela adoção de “melhores práticas de trabalho”, entre elas a redução da carga horária sem redução salarial.

A honraria seria concedida anualmente pelo próprio Senado, com base na indicação de candidatos pelos senadores.

“O modelo que temos de trabalho atualmente é muito ultrapassado. Nós precisamos evoluir também”, defende a senadora, ressaltando a correlação direta entre a redução da jornada de trabalho e a melhoria da qualidade de vida dos colaboradores, o que impacta diretamente na produtividade e nos resultados das empresas.

A senadora se baseou em dados concretos para a elaboração do projeto. Uma pesquisa realizada pelo DataSenado, a pedido de seu gabinete, revelou que a maioria dos brasileiros acredita que a redução da jornada de trabalho não apenas é viável como pode trazer resultados positivos para as empresas.

Mas afinal, quais são os benefícios tangíveis que motivam essa guinada em direção a uma jornada de trabalho mais curta? As vantagens para as empresas vão muito além de um diploma ou de um selo de “empresa ideal”, traduzindo-se em ganhos concretos que impactam diretamente a lucratividade e a sustentabilidade dos negócios:

Benefícios da redução da jornada de trabalho para empresas

  • Aumento da produtividade e eficiência: Trabalhadores com uma rotina mais equilibrada, que permite conciliar o tempo dedicado ao trabalho com a vida pessoal, tendem a ser mais focados, motivados e produtivos durante o expediente. A redução da jornada de trabalho, nesse contexto, funciona como um investimento em qualidade de vida, que se reverte em resultados para a empresa.
  • Redução de custos com saúde e absenteísmo: Uma jornada de trabalho mais flexível e humana contribui para a redução do estresse, da ansiedade e de doenças relacionadas ao trabalho, como a Síndrome de Burnout. Com trabalhadores mais saudáveis, as empresas tendem a gastar menos com planos de saúde e licenças médicas, além de reduzir as faltas e o atraso dos funcionários.
  • Melhoria do clima organizacional e atração de talentos: Empresas que priorizam o bem-estar de seus funcionários e promovem um ambiente de trabalho mais justo e acolhedor saem na frente na disputa pelos melhores profissionais do mercado. A retenção de talentos também é um ponto crucial, já que os funcionários se sentem mais motivados a permanecer em uma empresa que valoriza sua qualidade de vida.
  • Fortalecimento da imagem da empresa e da marca: Em um mercado cada vez mais consciente e engajado em causas sociais, a reputação de uma empresa é um diferencial competitivo de grande valor. Empresas que adotam práticas inovadoras e se posicionam à frente de movimentos como a redução da jornada de trabalho fortalecem sua imagem positiva junto aos consumidores, investidores e à sociedade como um todo.

A redução da jornada de trabalho, portanto, deixa de ser vista como um peso para as empresas e passa a ser encarada como um investimento inteligente e estratégico, capaz de gerar resultados positivos em diversas esferas.

O “Diploma Empresa Ideal”, proposto pela senadora Soraya Thronicke, simboliza esse reconhecimento e incentiva uma nova cultura no meio empresarial, em que o sucesso é construído com base no equilíbrio, na justiça e no respeito ao bem-estar de todos os envolvidos.

Como é a redução da jornada de trabalho pelo mundo?

A discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita ao Brasil. Em diversas partes do mundo, governos, empresas e trabalhadores se unem em busca de modelos mais flexíveis e humanos, que permitam conciliar o crescimento econômico com o bem-estar da população.

A jornada de trabalho reduzida, antes vista como uma utopia, ganha espaço em países desenvolvidos e em desenvolvimento, impulsionada por estudos que comprovam seus benefícios para a saúde, a produtividade e a economia como um todo.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), países considerados referência em qualidade de vida, como Holanda, Bélgica, Dinamarca e Alemanha, foram pioneiros na implementação da jornada de trabalho reduzida.

Nessas nações, a carga horária semanal média já se aproxima das 32 horas, com alguns setores trabalhando ainda menos, sem que isso tenha comprometido sua produtividade ou seu desenvolvimento econômico.

O Chile é um exemplo recente de país que decidiu investir na redução da jornada de trabalho como forma de melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos e impulsionar a economia.

Em 2023, o Congresso chileno aprovou uma lei que reduz gradualmente a jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais, em um período de cinco anos. A expectativa é que a medida tenha impacto positivo na geração de empregos, no aumento da produtividade e na redução dos índices de desemprego no país.

Na Espanha, o governo tem apostado em incentivos financeiros para estimular a adoção da jornada de trabalho de quatro dias por semana. Em 2023, foram destinados 9,6 milhões de euros (cerca de R$ 52,4 milhões) para empresas que aderirem ao modelo, sem reduzir o salário de seus funcionários.

A iniciativa do governo espanhol tem como objetivo testar os benefícios da jornada reduzida na prática e coletar dados para embasar futuras políticas públicas.

A busca por um equilíbrio entre vida profissional e pessoal, impulsionada pelas novas tecnologias e por uma mudança de mentalidade nas relações de trabalho, abre caminho para modelos mais flexíveis, que valorizem a saúde, o bem-estar e a realização pessoal dos trabalhadores.

A experiência de países que já adotaram a jornada de trabalho reduzida demonstra que é possível conciliar a produtividade com a qualidade de vida, em um cenário em que todos os lados saem ganhando: as empresas se beneficiam de trabalhadores mais motivados e produtivos, a economia se fortalece com a geração de novos empregos e os trabalhadores conquistam mais tempo para se dedicar à família, ao lazer, à educação e ao seu próprio desenvolvimento pessoal.

O Brasil, diante desse movimento global, tem a oportunidade de se posicionar como protagonista nessa nova era do trabalho, construindo um futuro mais justo, equilibrado e próspero para todos.

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